29.4.11

Infinitos Puerpérios

Durante todos os dias, minuto a minuto as letras delineiam-se em meus pensamentos e formam palavras que não chegam a respirar. Descrever pensamentos é sacrificioso, ofício que traz apenas fadiga e algo como solidão. Ah...mas gostamos de presenciar o sofrer - ao vermos sua ida, sentimo-nos leves e sabemos valorizar a calmaria.

Alguns dias mais e será dia das mães. Afora toda maquinaria da mídia e marketing, realmente ser mãe é algo transcendental. Não chega a ser mágico porque é mais divino que uma alucinação. Viver é como ser mãe: há momentos de absoluta felicidade, como quando a vida que em verdade parte de sua alma (e de mais alguém que talvez não seja um dejeto humano...) move-se em seu ser; há momentos de dor - de um parto doloroso que pode trazer mais contentamento...ou um parto que traz ainda mais dor e perdas terrenas. E então, inicia-se o puerpério, quando a mulher tenta voltar ao estado original, adapta-se novamente para renovar o ciclo. Igualmente doído, mas supõe que ao final concretiza-se o bem-estar.

Às vezes acordo e penso que ainda estou nessa fase - em realidade e em sentimentos. Espertamente, muito de vez em vez, assomam lágrimas pequenas que escapam do caos. Outras vezes verdes, lençóis aconchegantes  me envolvem após orações matinais e tudo parece transcorrer em paz. E assim vive-se, em meio ao dilúvio, ao terror, ao sorriso das crianças e o andar inquieto dos idosos, nem tão cansados de viver quanto pensamos.

Acabei de perceber que não escrevi nada que havia planejado. Como no início relatei, as palavras voam tão logo aproam em nossos pensamentos...hei de saboreá-los ainda em meus puerpérios infinitos, os quais espero, não sejam mais tão tristes quanto os outros.

Ao som de Madame Butterfly - Puccini

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