i: Sobre amor e esferas sociais: Há tempos venho
querendo voltar a perambular por aqui, desabafar meus medos, descrever minhas
paixões...aqui é meu cantinho feliz e infeliz, o local do não-importa, o
sem-lugar dos meus pensamentos completamente agitados e incontroláveis. Esses
dias muita coisa aconteceu, muita coisa aconteceu em mim e no mundo. Reaprendi
a lutar contra traumas do passado (longa caminhada), revigorei alguma esperança
na vida, refiz amizades que julgava perdidas. Tal qual montanha-russa, continuo
nos meus altos e baixos que me definem ipsis litteris: sou metamorfose descabida
e talvez por isso amada. Falando em amor, nesse primeiro tópico da volta aos escritos
no blog: esses dias vivi algo desagradável, um dèja vu...fiquei grilada (ainda
estou, a bem dizer). Sempre achei que a ideia de alguém fracassar em um
relacionamento devido a esferas sociais antagônicas fosse roteiro de filme de
amorzinho e de novela mexicana. Não. É real e sólido, é nojento e pulsante nas
veias de nossa sociedade pseudo-civilizada e pouco versada em assuntos que
envolvam Amor. Conheci alguém anos atrás, tivemos um filho inclusive, e parte
considerável do fracasso da relação foi social: eu era pobre demais para ele e
sua família. Ele me fez pensar que não fosse honroso ser alguém que luta pelas
coisas, que dá faxina para sobreviver e sustentar várias bocas. Ele despreza aquela mulher
lá na favela que dá o maior duro para criar filhos que mais tarde e ascenderão
socialmente e serão reconhecidos como verdadeiras pérolas polidas pelas
adversidades. Prole que sairia incólume: sem odiar, sem vingar. Esse rapaz me fez
desacreditar em amor...durante muito tempo. E poucos anos depois, cá estou, já
revigorada do rebaixamento por ele atribuído: e profissionalmente já
equiparável a ele e sua família de malucos ostentadores de classe média
pseudo-alta. Não o odeio, apenas desprezo. Assim como desprezo o último que
tive a ousadia de gostar; e que recaiu na mesma peripécia: não seguir adiante
por achar que não condigo com status quo da admirabilíssima família à qual
pertence. Sinceramente...cansei. Não sei mais o que quero: o cara pobre e pouco
esforçado não compartilha dos meus ideais de crescimento; o cara que tem um
pouco mais de dinheiro se acha o dono do quarteirão e bom demais para algo
menor que uma patricinha moderna e de boa família tradicional. Resta a solidão.
Os livros. Os amigos. Os filmes. Os passeios amargurados e solitários. O RPG.
Os planos e sonhos. Alguma família desestruturada e amada. A doação e o amor
aos necessitados. O Divino. Os traumas, medos e raivas dessa galáxia. E a
alegria limitada que me encontra em doses homeopáticas a cada dia conquistado.
É, na verdade...resta muita coisa.
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