12.4.10

Deslumbramento e Desvarios


"A desgraça é variada. O infortúnio da terra é multiforme. Estendendo-se pelo vasto horizonte, como o arco-íris, suas cores são como as dele, variadas, distintas e, contudo, intimamente misturadas. Estendendo-se pelo vasto horizonte como o arco-íris! Como é que, da beleza, derivei eu um exemplo de feiúra? Da aliança da paz, um símile de tristeza? Mas é que, assim como, na ética, o mal é uma consequência do bem, da alegria nasce, na realidade, a tristeza. Ou a lembrança da felicidade passada é a angústia de hoje, ou as agonias que existem agora têm sua origem nos êxtases que podiam ter existido.".


(Extraído do conto Berenice, de autoria de Edgar Allan Poe. Foi escrito em 1835.)




Quando li esse conto fiquei extasiada com essa introdução, se é que podemos chamar assim o primeiro parágrafo do conto do brilhantíssimo Poe. Lembro-me de fertéis conversas com minha amiga Natália, em que percebíamos que a vida e os possíveis sofrimentos advindos no seu desenrolar são meros produtos do "se". Se tivesse sido...Se fosse assim...Se...Se... Desapeguemo-nos do se, vivenciemos as possibilidades concretas que a vida nos oferece, saboreemos a nós mesmos sempre! Talvez nós descobriremos que sofrer ante tanta beleza e harmonia seja tolice.


Imagem: Pablo Picasso.

té.

7 comentários:

Laura Diniz disse...

ah não concordo.
"o mal é uma consequência do bem, da alegria nasce, na realidade, a tristeza."

o mal não é uma consequência do bem e sim a ausência do bem.
assim como penso que a tristeza é a ausência da alegria.
E não uma deriva ou seja consequência da outra.
assim como escuridão não é consequência da luz e sim é a ausência da mesma, saca?

Natália Barud disse...

Eu acredito que a relação felicidade-tristeza, dor-prazer, bem-mal estão fortemente entrelaçadas.

“Da alegria nasce, na realidade, a tristeza”.

A tristeza que nasce da alegria é aquela de saber não ser feliz o tempo inteiro, de saber do efêmero, da curta duração da vida. Não há mal que perdure muito tempo, nem tristeza que seja eterna. A ausência de felicidade não advêm de tristeza, pode-se não “ser” feliz, nem triste, simplesmente indiferente. Não creio que a falta de felicidade nos faz triste, isso seria simplificar nossas emoções. Acredito que há “felicidades” e “tristezas” tão profundas que não podem ser reduzidas a uma simples falta de uma ou ausência de outra.

A felicidade e a tristeza coexistem em nosso ser, e saber disso é o que faz que não haja felicidade nem tristeza absoluta, dificilmente poderemos definir onde começa uma e quando termina outra.

Laura Diniz disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Laura Diniz disse...

concordo em muitos aspectos com você Natália.

eu penso que em nosso ser coexistem tristezas e alegrias, felicidades e dores profundas.

o que eu não concordo é acreditar que a alegria é consequência da tristeza, por exemplo.
a alegria é uma consequência de uma atitude, de uma idéia que se recusa a ser triste.

Para mim, a tristeza não nasce da alegria.
Porque ela já existe em nós (somos tristes e alegres..ela não surge, não nasce, já existe, já é condição da existência humana) e apenas floresce na ausência de respostas, alegria sobre determinado assunto etcs...e isso não quer dizer que em mim não exista alegria (porque como você eu acredito que ambos os sentimentos coexistem em nós). Pra ilustrar o meu pensamento:
Posso ser triste porque sou só.
A minha tristeza floresce pela ausência de alegria que sinto quando me dou conta que sou insatisfeito com a minha vida social, talvez.
E a minha alegria floresce e está estreitamente ligada com a minha necessidade de companhias.
Sou triste (não tenho alegria) porque sou só, mas sou alegre também quando estou acompanhado.
A alegria no caso não nasceu da tristeza, mas floresceu porque aquilo que me era ausência e que me fazia triste tornou-se presente.

lsjack disse...

A verdade não existe.

Tristeza é fruto da ausência de felicidade? Tomás de Aquino chegou a conclusão de que "a tristeza é um ente de razão porque consiste na privação ou défice da alegria".

A felicidade independe da tristeza? Friedrich Nietzche apontava que a felicidade depende única e exclusivamente da vontade do homem. Lembremos da sua defesa do "amor fati", devemos ter um amor incondicional pela vida, independente das mazelas que sofremos.

Abraços

Unknown disse...

eu concordo.

só existe um conceito se existir o oposto dele, para usar de referencia. só existe o bom se existir o mal. só existe o bonito se existir o feio.

Mila disse...

A discussão está ferrenha por aqui...que bom (:
Eu mantenho meu ponto. Como a Nati disse, esses conceitos e delimitações estão entrelaçados, e sem um não existe o outro. Não há como conceber o caos sem entender a perfeição, não há como derivar alegria sem uma tristeza anterior. Precisamos de pontos de comparação. Se falarmos tão somente de ausências, nem assim negamos o fato de que ha algo paralelo que deriva de maneira uniforme daquela falta.