6.2.11

linhas sensíveis


Existem horas que a tristeza aperta tão fortemente o peito que as lágrimas descem a qualquer momento e sem qualquer razão convincente a não ser tudo, tudo em seu somatório de caos e desgraça.

se eu pudesse eu sumiria. esses dias tem sido regados com um degradante cheiro de morte e tonteira, mesclados a pequenas epifanias estéreis que não resolvem nada, em absoluto.

decidi não contar mais, fechei minhas pétalas para alguns universos. se você não é convidada para sair, saia sozinha e delicie-se com sua sólida solidão e o fato de há mais de um ano ter sido cortejada por zero indivíduos - salvo exceção dolorosa. é o que fiz e provavelmente terei que perpetuar como nota comportamental. sabe o que é engraçado de relacionamentos? caso você saia com amigos ou ficante ou aliens você PRECISA estar feliz e bem para satisfazer a mesa. depressivos não são bem vindos, sua desesperadora sinceridade com o que desfaz a vida é digna de nojo. taí! é por isso que não me chamam para sair, desvendei o busílis.

poema que me define - definitivamente, embora espero que não em caráter ad infinitum:

"Cobre-lhe a fria palidez do rosto
O sendal da tristeza que a desola;
Chora - o orvalho do pranto lhe perola
As faces maceradas de desgosto.

Quando o rosário de seu pranto rola,
Das brancas rosas do seu triste rosto
Que rolam murchas como um sol já posto
Um perfume de lágrimas se evola.

Tenta às vezes, porém, nervosa e louca
Esquecer por momento a mágoa intensa
Arrancando um sorriso à flor da boca.

Mas volta logo um negro desconforto,
Bela na Dor, sublime na Descrença.
Como Jesus a soluçar no Horto!"

(Augusto dos Anjos - "Sofredora")


mundo, eu te odeio. sem mais.

Um comentário:

Natália Barud disse...

Lindo esse texto! Pena que de temática tão dolorosa. Tenha muita calma querida, lembre-se da fluência das coisas...