28.11.10

Oitavo

Minha singela despedida aos colegas, amigos e professores do curso. Lida sob intensa tremedeira na nossa aula da saudade de sexta, dia 26.11.2010. O fim se aproxima e eu ainda não me encontrei... :/



É difícil falar de saudade, de amor, de aprendizado e de sede. É difícil falar do que nos tornamos e admitir que sentiremos falta. Somos rio e nossas águas mudaram: ficaram turvas, límpidas, indecisas. Unimos-nos, nos amamos, nos detestamos, nos perdoamos. Aprendemos muito: a compreender, a construir conhecimento, a inovar e desejar. Também desaprendemos, e talvez isso tenha sido o mais importante: desaprendemos a ver, a sentir e a ser o que éramos e nos tornamos novos. Somos diferentes daqueles quase adultos insanos e sem rumo. Agora somos adultos e continuamos sem rumo. O que quero dizer são palavras que morrerão aqui dentro, mas cujo valor continuará entre nós: esses anos em que me desconstruí foram alguns dos melhores da minha vida; os amigos que fiz e amo continuarão aquecendo meu coração; os momentos que vivi poderão desaparecer do mundo, mas não da minha alma. Já dói a falta de ver todos, todos os dias, viver esse espaço e aprender o novo e o velho. O mínimo que faço é tentar expressar esse sentimento de ausência e realização, desejando que a vida tome rumos bons para todos nós, e que os desejos e anseios de todos se concretizem. Guardo cada um no coração de uma forma, mas agradeço a todos por terem feito parte da minha vida e me ajudado a ser quem sou.

O fim de todas as coisas é o começo de todas as coisas.

25.11.10

Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Carlos Drummond de Andrade

17.11.10

Luzes


Mais um novo fim de ano. Mais um fim. Mais um começo de um novo fim.

As ruas da cidade (linda minha cidade!) já estão todas enfeitadinhas. Cheias de luzes, enfeites, brilhos. Parecem bonequinhas que a mocinha caprichosa, com esmero, produziu para o chá de pétalas de rosa. Cheias de orvalho, aquele cheiro delicioso...as pétalas e as ruas. 

Ano passado nem passeei pelas minhas ruas, não tão minhas, para admirar as luzes. Esse ano talvez eu até pague um táxi só para ver um pouco do brilho da história desse mundo em que nasci, em que o Augusto nasceu, você talvez. Eu queria poder pegar um pouco dessa luz e colocar dentro de mim, ficar quentinha e protegida. Mas não tem jeito de pegar...minhas ruas estão só solidão, silêncio e escuridão.

Minhas ruas, essas sim tão minhas, estão sem enfeites de Natal esse ano.


"Todo fim faz-me clarear
Talvez paz, não mais te esperar
Sei que errei, por muito tempo eu te dei
Toda luz...

Todo sim fez-me adorador
Sempre atrás de um beijo, um sorriso, um olhar eu estive
Sei que não dá pra ter de volta o que eu te dei
Toda luz...

Muita luz pra alguém que nem queria ficar,
Mas nem sair...
Bem atrás da casa havia uma linda flor,
Você nem viu...

Todo não fez-me desvaler
Ir de encontro ao pior de você não era justo não
Sei que errei, por muito tempo eu te dei
Tanta luz...

Muita luz pra alguém que nem queria ficar,
Mas nem sair...

Bem do lado interior do coração,
Ainda mora um forte afeto por você...
Bem atrás da casa havia uma linda flor,
Você nem viu..."

(Gram)


Menina dos olhos tristes...

...não se cansa de chorar? Teu olhar rejeita a vida, ninguém a quer amar.



"Cobre-lhe a fria palidez do rosto
O sendal da tristeza que a desola;
Chora - o orvalho do pranto lhe perola
As faces maceradas de desgosto.


Quando o rosário de seu pranto rola,
Das brancas rosas do seu triste rosto
Que rolam murchas como um sol já posto
Um perfume de lágrimas se evola.


Tenta às vezes, porém, nervosa e louca
Esquecer por momento a mágoa intensa
Arrancando um sorriso à flor da boca.


Mas volta logo um negro desconforto,
Bela na Dor, sublime na Descrença.
Como Jesus a soluçar no Horto!"

(Augusto dos Anjos - "Sofredora")

11.11.10

Medo


O pior de ter medo é não ter alguém para te abraçar e fingir que o medo não está ali.
O que há nas profundezas do coração meu...é cruel, é triste. Não merece ser transcrito, expresso.

Merece o esquecimento.
Resta apenas o silêncio agora. Sabe lá se amanhã o Sol vai ser menos cinza? Eu queria.

Querer é perder. Poder é ter. Ser é vazio.



"Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco."
(Carlos Drummond de Andrade)

"Veja o sol
Dessa manhã tão cinza
A tempestade que chega
É da cor dos teus olhos
Castanhos...
Então me abraça forte
E diz mais uma vez
Que já estamos
Distantes de tudo"
 (Tempo Perdido)

"O ser busca o outro ser, e ao conhecê-lo
acha a razão de ser, já dividido.
São dois em um: amor, sublime selo
que à vida imprime cor, graça e sentido.

"Amor" - eu disse - e floriu uma rosa
embalsamando a tarde melodiosa
no canto mais oculto do jardim,
mas seu perfume não chegou a mim."

(Carlos Drummond de Andrade)

Seu desejo não era desejo
corporal.
Era desejo de ter filho,
de sentir, de saber que tinha filho,
um só filho que fosse, mas um filho.

Procurou, procurou pai para seu filho.
Ninguém se interessava por ser pai.
O filho desejado, concebido
longo tempo na mente, e era tão lindo,
nasceu do acaso, o pai era o acaso.

O acaso nem é pai, isso que importa?
O filho, obra materna,
é sua criação, de mais ninguém.
Mas lhe falta um detalhe,
o detalhe do pai.

Então ela é mãe e pai de seu garoto,
a quem, por acaso,
falta um lobo de orelha, a orelha esquerda.
(Carlos Drummond de Andrade)


Ninguém jamais saberá o tamanho da dor. Dores. Minhas e de todo o resto.

4.11.10

1966 e o Amor


Cupido - Edvard Munch
"O jeito, no momento, é ver a banda passar, cantando coisas de amor. Pois de amor andamos todos precisados, em dose tal que nos alegre, nos reumanize, nos corrija, nos dê paciência e esperança, força, capacidade de entender, perdoar, ir para a frente. Amor que seja navio, casa, coisa cintilante, que nos vacine contra o feio, o errado, o triste, o mau, o absurdo e o mais que estamos vivendo ou presenciando.
A ordem, meus manos e desconhecidos meus, é abrir a janela, abrir não, escancará-la, é subir ao terraço como fez o velho que era fraco mas subiu assim mesmo, é correr à rua no rastro da meninada, e ver e ouvir a banda que passa.[...]"

(Carlos Drummond de Andrade, Correio da Manhã, 14.10.1966)
Eu preciso comentar? ...Pois é.

1.11.10

Today...


Hoje eu sou a Lua...não, isso é deveras pretencioso. Eu sou como a Lua hoje: sou toda esburacada, cinza, entre pedras. Sou toda triste e profundamente machucada por dentro: o que a superfície mostra é o ápice do iceberg em que a alma se encontra.

Hoje eu me sinto como a Lua: mesmo com tantos poréns, ela é admirada, é iluminada. Eu ouvi isso a meu respeito, não falaria de mim com toda essa pompa...Uma amiga minha me disse que eu sou iluminada porque eu atraio pessoas boas. Logo eu...

Que seja. Eu tenho os pés machucacos hoje. Feridas profundas. A vida toda eu conheci o sofrimento, e agora ele é todo um grande e enorme medo me afrontando.


Eu sou como a Lua. De longe eu sou pequena mas de perto eu sou grande. Poucos conhecem...pouquíssimos.


Eu sou forte. Eu acordo todo dia sem acreditar nisso. Eu durmo todo dia acreditando nisso. Todos os momentos eu me provo o quanto eu sou forte. Às vezes não queremos ser fortes, queremos ser amados. De alguma forma que só Deus sabe, minha força atrai amor.

Hoje eu tenho um pedaço da Lua em mim.




"Were you born to resist or be abused?
Is someone getting the best, the best, the best, the best of you?[...]
Are you gone and onto someone new?
I need somewhere to hang my head
Without your noose
You gave me something that I didn't have
But had no use
I was too weak to give in
Too strong to lose
My heart is under arrest again
But I break loose
My head is giving me life or death
But I can't choose
I swear I'll never give in
I refuse[...]
I've got another confession, my friend
I'm no fool
I'm getting tired of starting again
Somewhere new."
(Best of You)  




Fonte imagem: http://filmesdelobisomem.zip.net/images/strange_moon.jpg